O campo e o fator político

O que a agricultura, atividade milenar que fixou o homem tirando-o do nomadismo, tem a ver com a política? Tudo, desde o preço da semente do grão, passando pela produção, que permeia políticas de exportação e de incentivo ao produtor e, inclusive, trazendo consequências ao preço do produto final que chega à mesa dos brasileiros. Foi por meio dessa atividade que criou-se a possibilidade de o homem e, por consequência, a civilização se desenvolverem.

A agricultura é a pedra angular na produção de alimentos para a humanidade. O manejo da terra trouxe _ e ainda traz até os dias atuais _ à humanidade um conhecimento amplo e profundo do habitat. No Brasil, a produção de alimentos tem sido o carro-chefe da economia, de sucessivos governos, ao alavancar a economia. E essa é uma escolha política. Há 15 anos, tal opção dos governos brasileiros têm feito com que o país esteja conquistando espaços, até então, cada vez mais restritos a países ricos, como os Estados Unidos.

Porém, a exemplo de outras atividades do país, o agronegócio e, em especial, a agricultura, também ficam à mercê da intervenção política. Exemplo disso é a relação entre Brasil e os Estados Unidos, que são concorrentes diretos na exportação de soja. O governo norte-americano já tentou proibir a importação de soja brasileira por causa da incidência da ferrugem nas plantações do país. À época, o Brasil avaliou a medida como protecionista, ou seja, quando um governo favorece as atividades econômicas de um determinado setor.

_ É uma prática recorrente entre os países. O protecionismo é uma forma de preservar os interesses de um setor _ avalia Alexandre Reis, professor de Economia da Unifra.

O economista destaca que em meio a uma economia frágil, como a brasileira, que busca solidez frente às grandes nações, o agronegócio coloca o Brasil no compasso do capitalismo das nações mais desenvolvidas. Para ele, a agricultura e a pecuária são pontos estratégicos da economia e questões de segurança alimentar. Na tentativa de desonerar alimentos da cesta básica, como arroz, feijão e milho, o governo, por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), costuma comprar estoques de grãos para evitar a alta de preços e, com isso, afastar a temida inflação. Tal prática costuma ser recorrente em período eleitoral.

Décio Teixeira, presidente da Aprosoja gaúcha, entidade que reúne os produtores de soja do Estado, entende que o governo não olha com a devida atenção para as demandas do agricultor. Hoje, o Brasil é o maior exportador mundial do grão. Contudo, o governo não consegue resolver gargalos históricos, como as deficiências estruturais em estradas, ferrovias e portos do país, acredita:

_ Geramos um superávit positivo à balança comercial brasileira e, em troca, lidamos com muitos gargalos.

O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Osório Dornelles, diz que a União faz pouco. Ele cita um exemplo dos Estados Unidos que poderia ser adaptado aqui. Lá, segundo ele, no risco de uma intempérie ou de mudanças climáticas, o seguro rural, bancado pelo governo, garante parte da rentabilidade aos que plantaram:

_ O único subsídio que temos é em relação aos juros bancários mais baixos. Essa é a única contribuição.

O associativismo e os ganhos da agricultura familiar

Conhecedor da realidade do pequeno agricultor, o gerente regional da Emater de Santa Maria, Cesar Medeiros, acredita que o produtor mais modesto dispõe de políticas públicas que fomentam a agricultura familiar. Para ele, a saída para eventuais crises no campo está no associativismo:

_ Hoje, o agricultor tem crédito e tem mercado. A produção e a organização dos produtores engatinham. A soja é uma commodity que interfere no processo produtivo e faz com que o pequeno agricultor se lance à cultura da soja, mas o custo e o retorno são altos e exigem uma demanda alta de investim